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A maratona para bater ponto em um sistema que não registra a realidade

  • Foto do escritor: Ascom Sintesam
    Ascom Sintesam
  • 14 de mar. de 2024
  • 4 min de leitura

Desde a implantação do ponto eletrônico pelo sistema SOUGOV, servidores da Ufam enfrentam dificuldades para provar que estão trabalhando; instituição não possui máquinas suficientes ou internet estável em vários setores, o que ocasiona muito deslocamento e perda de tempo precioso

Tela do SOUGOV apontando erro no registro do ponto para servidor da Ufam na volta do intervalo de almoço. Foto: assessoria/Sintesam


Exigir registro de ponto dos trabalhadores, à primeira vista, soa básico para o controle da gestão e assiduidade dos funcionários. No ambiente de repartição pública ou mesmo corporativo, o uso do ponto eletrônico é considerado absolutamente normal. No entanto, ao fazer essa exigência para os servidores da Ufam - Universidade Federal do Amazonas -, a administração não providenciou dois itens básicos que fazem a cobrança de registro funcionar: estrutura e treinamento. Principalmente considerando que a parte "eletrônica" do ponto não é o simples 'dedinho' na máquina, mas o acesso a dados pessoais sensíveis e uso de ferramentas de informática que trazem dificuldade aos servidores idosos.


Técnicos-administrativos em educação da Ufam precisam registrar o ponto quatro vezes ao dia: ao chegar, ao saírem para o intervalo do almoço, ao retornarem do intervalo e na saída. Existe uma tolerância de 15 minutos de atraso.


A instituição, enquanto incentivadora de ensino, pesquisa e extensão, não é limitada ao trabalho sentado em frente ao computador; existem dezenas de laboratórios de diferentes ramos, estufas, áreas verdes e outros ambientes laborais que compõem o cotidiano dos TAEs e professores. Obviamente, nem todos contam com computadores. Além disso, o campus da Ufam em Manaus possui 6,7 milhões de quilômetros quadrados: é o maior fragmento verde

em área urbana do Brasil, terceiro maior do mundo. Quem precisa se deslocar do próprio setor tem que andar - e não é pouco.


A jornada de Deomício, 66 anos, para provar que trabalha


Seu Deomício é TAE lotado no conhecido "macacário" da Ufam, em área verde, onde funciona o cultivo de plantas, hortas, adubo e são armazenadas outras formas de ciências da terra, que auxiliam disciplinas e pesquisas da agroecologia. É servidor da Ufam há mais de 40 anos. Ele mora no município de Iranduba e precisa da "carona" de 3 ônibus para chegar à universidade. Para não atrasar, tem que sair bem cedo. Por volta das 7 da manhã, já está no setor.


O problema é a inexistência de computador em seu local de trabalho - além da falta de habilidade dele com a máquina. Diariamente, ele precisa sair do local isolado no qual labuta e esperar a chegada de colegas do Instituto de Ciências Biológicas II - três quarteirões distante de onde ele trabalha - para, contando com a boa vontade dos servidores mais habilidosos com tecnologia, conseguir registrar o ponto.


Deomício tentando enxergar o campo do SOUGOV onde se coloca a senha do usuário. Foto: assessoria/ Sintesam


A assessoria do Sintesam acompanhou o momento do retorno do almoço de Seu Deomício. Ele precisou do auxílio de uma colega do ICB, já acostumada a "emprestar" o computador para vários técnicos baterem ponto - e também a ajudá-los. Primeiro, o sistema apontava que não era possível fazer o registro. Foram 3 tentativas. Com a chegada de uma terceira servidora, que também precisava bater ponto, finalmente deu certo. Mas foram 20 minutos perdidos.


"Força-tarefa" para conseguir registrar o ponto do colega. Foto: assessoria/ Sintesam


A falta de treinamento para os servidores tornou o registro de ponto um obstáculo a mais na rotina dos trabalhadores. Sem autonomia alguma principalmente para os mais velhos, a situação é mais uma vulnerabilidade diante de tantas já enfrentadas (salário defasado, carreira desestruturada...). Seu Deomício já possui tempo de serviço suficiente para solicitar a aposentadoria, mas, como ele mesmo disse, "se eu aposentar, perco plano de saúde pra mim e pra minha mulher, por isso que eu ainda to aqui, aguentando".


Outros idosos como ele enfrentam ladeiras, escadarias (elevadores param de funcionar com frequência), sol e chuva para simplesmente provarem que estão trabalhando. Quatro vezes ao dia.


Neste vídeo logo abaixo, Deomício sai do ICB logo depois do registro e retorna ao seu posto de trabalho. O trajeto cansa só de acompanhar. Era uma da tarde, muito calor. E quando chove, ele faz o mesmo percurso. Tivemos que acelerar, mas a caminhada foi de quase dez minutos:





Vulnerabilidade de dados sensíveis


Quem se voluntaria para ajudar os colegas com dificuldades ainda passa pelo constrangimento de lidar com o informações pessoais de alta segurança de terceiros, como é o caso do login do SOUGOV. Por meio do site oficial do governo federal criado para os cidadãos, é possível ver informações bancárias, emitir assinatura digital, verificar dados fiscais, fazer inscrições em concurso e outros programas de governo, todos de acesso totalmente restrito. No meio de todo esse ambiente digital vulnerável, os servidores batem o ponto eletrônico, inevitavelmente, em boa parte das vezes, revelando CPF e senha.


Servidora teve de levar laptop pessoal com monitor quebrado para que houvesse uma máquina disponível no setor para registro de ponto. Foto: Assessoria/ Sintesam


Orientação do Ministério Público Federal não levantou diálogo com servidores


A exigência do ponto eletrônico veio de cima para baixo após recomendação do MPF de 2013 que, apesar de não possui valor de determinação judicial, tem grande peso institucional, já que a Procuradoria é competente para o ajuizamento de eventual Ação Civil Pública contra a Ufam.


Passado tempo considerável sem a devida discussão com a comunidade universitária, a implementação do ponto eletrônico começou em janeiro de 2024, apenas com o aviso aos servidores e o único treinamento disponível em vídeo, somente via internet e computador, excluindo aqueles que mais têm dificuldade com o sistema.


Nesta postagem, falamos do ofício que o Sintesam levou à reitoria no começo de janeiro sobre todos os problemas ocasionados pelo ponto eletrônico, considerando as peculiaridades da Ufam, instituição multidisciplinar e de dimensões "milhométricas".


No entanto, até hoje, não houve qualquer resposta concreta da administração ou da reitoria sobre nova análise a respeito dos registros de frequência. Motivo pelo qual este também é ponto de pauta local da greve dos TAEs da Ufam.





 
 
 

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